Crítica: Nunca Visto (Netflix)

Nunca Visto (Lo Nunca Visto), lançamento em alta no catálogo da Netflix, é a típica comédia espanhola pastelão sobre costumes. Nela, os 15  moradores restantes do decadente vilarejo Fuentejuela de Arriba, liderados por Teresa (Carmen Machi), lutam para que o lugar não seja incorporado a um município maior; tentando, assim, evitar que suas tradições e identidade caiam no esquecimento. 

Imagem: divulgação

Ao mesmo tempo, quatro refugiados africanos vão parar no minúsculo povoado. Desafiando as visões de mundo limitadas de gente que até então sentia muito orgulho de nunca ter deixado a comunidade, valorizando apenas os próprios hábitos, a chegada do grupo logo gera medo do diferente e conflitos de opinião. 

Com produção da TVE (Televisão Espanhola), dirigido e roteirizado pela argentina Marina Seresesky  e distribuído internacionalmente pela Netflix, o filme busca tratar do esvaziamento da Espanha rural na contemporaneidade e das crises migratórias. Para tanto, ele adota  a perspectiva do humor e aponta para o que há de ridículo no racismo, na homofobia, no machismo, na xenofobia e na manutenção de tradições que percorrem o tempo esvaziadas de sentido.

CRÍTICA E HUMOR

Abordando temas absolutamente atuais, portanto, e reproduzindo os vícios das comédias espanholas mais comerciais, Nunca Visto consegue apelar tanto ao público que busca uma obra mais crítica como ao que procura por entretenimento enlatado ao estilo espanhol.  Justamente por isso, porém, os possíveis resultados positivos do filme ficam comprometidos. 

‘Nunca Visto’/ Divulgação

A ideia certamente é boa: determinar a alteridade como centro da trama, forçando o encontro entre os diferentes e fazendo das manifestações de preconceitos (dos mais toscos ao mais graves) material para uma comédia de absurdos. O problema é que, ao entregar-se completamente aos lugares comuns do formato mais clichê das comédias espanholas com maior apelo comercial, a produção se dedica apenas a críticas previsíveis e superficiais; caindo ela própria numa porção de estereótipos.

Em meio a confusões e gritaria (picuinhas de vizinhos, disputas eleitorais e rixas entre ex-casados), resta muito pouco espaço para alguma comédia do absurdo complexa e surpreendente. O texto, então, sempre parece óbvio demais; e as performances de alteridade sempre aquém de uma caricatura de qualidade.

Mas o maior problema de Nunca Visto surge mesmo no final. Sob um desenrolar crítico tão frágil e genérico, acaba não ficando claro se a diretora retrata uma suposta e feliz “união dos povos” com tom questionador sobre hipocrisias ou se ela, na verdade, quis fechar seu filme com otimismo, sem se dar conta de que os personagens africanos tornam-se praticamente mascotes de  Fuentejuela de Arriba.

Sobra elenco estelar (composto por Machi, figurinha carimbada das comédias espanholas;  Jon Kortajarena, galã da série Alto Mar; e Paco Tous, de La Casa de Papel) e falta potência e forma às intenções de Seresesky. Assim, o resultado é uma historieta pouco memorável.

Ficha Técnica:

Direção: Marina Seresesky

Duração: 1h33

País:  Espanha

Ano: 2019

Elenco: Carmen Machi, Pepón Nieto, Kiti Manver, Jon Kortajarena, Paco Tous, Jimmy Castro, Montse Pla

Gênero: Comédia

Distribuição: Netflix

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