O Ministério do Tempo: série ganhadora do Prêmio Platino 2018 revisita a história da Espanha

Vencedora do Prêmio Platino 2018 na categoria de Melhor Série Ibero-Americana, O MInistério do Tempo tem suas três temporadas disponíveis na Netflix. Aos desavisados, a produção espanhola pode parecer apenas mais uma série de ficção sobre viagens no tempo, mas a obra criada pelos irmãos Javier e Pablo Olivares é um verdadeiro mergulho pelos séculos espanhóis.

Logo no episódio piloto, a Espanha de 2015 se faz sede do mais recente Ministério do Tempo. Nele encontram-se diversas portas que levam aos mais variados períodos históricos do país. A missão da instituição governamental secreta é zelar pela manutenção de cada detalhe da história espanhola e cuidar para que ninguém tente alterá-la, já que mudar elementos da história de uma nação pode causar mudanças grotescas na história mundial.

No decorrer dos anos, o Ministério passou pelas mãos de diversos ministros. Em 2015, ele é comandado por Salvador (Jaime Blanch), que auxiliado por Irene (Cayetana Guillén Cuervo) e Ernesto (Juan Gea), recruta uma nova patrulha: Amélia Folch (Aura Garrido), Alonso de Entrerríos (Nacho Fresneda) e Julián Martínez (Rodolfo Sancho).

A patrulha original (da 1ª e 2ª temporadas). A partir da esquerda: Julián, Amelia e Alonso / Divulgação

Amelia, recrutada no século XIX, é uma das primeiras mulheres universitárias da Espanha. Brilhante, ela é designada como líder da patrulha. Alonso, por sua vez, é recrutado no século XVI. Seus valores e comportamentos correspondem a um nacionalista, soldado nobre e fiel ao rei da Espanha. Já Julián, recrutado em 2015, é um médico socorrista que não consegue superar a morte trágica da esposa e não vê mais sentido na própria vida.

As patrulhas são responsáveis pelo trabalho de campo. Quando algo parece fora dos eixos, é a patrulha quem atravessa a porta da data em questão e se empenha em resolver o impasse histórico. Assim, ao serem recrutados, Amelia, Julián e Alonso começam a viver as aventuras mais inusitadas de suas vidas. Cada episódio traz um novo problema e, às vezes, o trio precisa salvar a vida de alguma personalidade importante da Espanha (um grande soldado, político ou artista), enfrentar nazistas ou descobrir o que fez com que um dos quadros de Dalí aparecesse com o desenho de um tablet.

O Ministério do Tempo possui inúmeras qualidades, mas sua maior virtude está em equilibrar todas as frentes narrativas sem que nenhuma seja ofuscada. À medida em que importantes episódios da história espanhola são revisitados, a relação entre os três patrulheiros de séculos diferentes se desenvolve e os mistérios que envolvem o surgimento e a função do Ministério são revelados.

Irene e Ernesto / Divulgação

Observar as viagens no tempo – ainda que elas sejam feitas da maneira mais simples possível e sem efeitos especiais – e conhecer personagens ilustres da história da Espanha é fantástico, claro. Mas a dinâmica entre os personagens é de uma riqueza invalorável.

Alonso, por exemplo, passa algum tempo tendo problemas em aceitar que ele, um nobre guerreiro, irá receber ordens de uma mulher. Amélia, no entanto, parece ter uma maturidade emocional gigantesca para lidar com os novos desafios de sua vida (incluindo aprender sobre tecnologias que não existem em sua época). E Julián faz as vezes de homem moderno rebelde, que questiona o tempo todo as razões pelas quais deve salvar determinadas pessoas mas não pode voltar no tempo e salvar sua esposa.

Colocar Amelia neste lugar de liderança, sabedoria e perspicácia é outra qualidade da série. A personagem é fundamental para conduzir a trama de maneira equilibrada – lugar poucas vezes concedido à uma protagonista mulher. Quando questiona, dá ordens em homens do século XV, traça estratégias, parte para o embate ou até mesmo quando toma decisões erradas, Amelia representa mais do que o estereótipo de mulher forte moldado pela indústria do entretenimento. Ela representa uma mulher real, uma heroína possível.

Imagem: Divulgação

Por isso, engana-se quem acredita que O Ministério do Tempo seja apenas uma obra de aventura e fantasia que trata de uma Espanha do passado, distante. Com humor, a própria série tira o glamour de seu Ministério ao evidenciar que ele funciona na base do “jeitinho espanhol” e que, como qualquer serviço público, está sujeito a corte de gastos e funcionários insatisfeitos. Além de atuar como um departamento de governo que nem sequer sabe se outros países – como EUA – têm um setor semelhante, com portas que desafiam a linearidade do tempo.

Produzida pela RTVE (Televisión Española), a série alcançou tanto sucesso que além de ser distribuída em mais de 190 países pela Netflix e de levar um Prêmio Platino, países como China e Portugal já foram atrás dos direitos para fazer remakes. Não sabemos se as adaptações conseguirão manter todo o charme da obra original, afinal, grande parte do valor da produção vem da própria Espanha. Sem grandes orçamentos, mas com boas ideias e realizações, o país conseguiu extrair de si mesmo o material necessário para uma bela série de TV. No fim das contas, ser tão única e original é justamente o que faz de O Ministério do Tempo uma série imperdível.

 

Ficha técnica

Ano: 2015, 2016, 2017

Criação: Javier Olivares e Pablo Olivares

Elenco: Aura Garrido, Nacho Fresneda, Hugo Silva, Rodolfo Sancho

Gênero: Fantasia, Aventura

Distribuição: Netflix

País: Espanha

 

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