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O lugar que a Netflix ocupa hoje no cinema mundial, como serviço de streaming, é uma discussão que abrange várias frentes e vai longe. Uma das características inegáveis da empresa, entretanto, é o fato de que ela tem atuado quase que como socorrista de projetos “em perigo”.
4 filmes conceituados sobre mães da ‘vida real’
A maternidade é tema recorrente em filmes de comédia e até mesmo de terror. Títulos que englobam as desventuras de “mães faz-tudo”, sobre mulheres bem-sucedidas e igualmente surtadas, chamam a atenção pelo humor e falso retrato da realidade.
Plano B, Não Sei Como Ela Consegue, Perfeita é a Mãe, Uma Mãe em Apuros…todas essas produções mostram a condição feminina de maneiras distintamente exageradas: ora como mulheres incríveis e polivalentes, ora como irresponsáveis e rebeldes. Enquanto isso, filmes como O Bebê de Rosemary, A Mão Que Balança o Berço, Carrie, A Estranha, Mama e O Chamado trazem mães atormentadas e/ou diabólicas.
Recentemente, o lançamento de Tully, sobre as imperfeições da maternidade, trouxe às telas uma discussão bastante necessária: a representatividade realista da figura materna. Assim, nos esforçamos para pensar em outros longas-metragens que lidem com o tema de maneira responsável. Como são poucos, seu apontamento e enaltecimento é importantíssimo – não somente à sétima arte, mas também à representação de gênero. Confira, abaixo, 4 filmes conceituados sobre mães da vida real:
Olmo e A Gaivota (2014)
Dirigido por Petra Costa (Elena) e Lea Glob, Olmo e A Gaivota explora as sutilezas do limite entre documentário e ficção. Olivia (Olivia Corsini) e Serge (Serge Nicolaï) são um casal de atores que vive na França. Quando uma nova montagem de A Gaivota, peça do renomado dramaturgo russo Anton Tchekhov, começa a ser produzida pelo grupo de teatro do casal, Olivia descobre estar grávida.
A partir daí, a atriz tem de lidar com as dificuldades comuns da gravidez (aumento de peso, sensibilidade extrema, desconforto físico e etc.), e com o fato de não poder deixar seu apartamento durante nove meses – em um prédio sem elevador, e considerando os riscos à própria gestação. Assim, Olivia sofre com sua nova realidade e com o tratamento social dado a uma mulher grávida.
Olmo e A Gaivota é, antes de mais nada, um apelo das diretoras ao papel aplicado às gestantes pelo senso comum. Gravidez não é doença, mas também não é um “mar de rosas”. A mulher sempre sentirá a pressão em ser feliz com o futuro bebê – mesmo que sofra de dores constantes ou sinta medo do próprio futuro. Uma vez mãe, sempre mãe. E o ganho de uma nova identidade desperta um tipo de ansiedade muito específico. Afinal, além de uma nova vida depender exclusivamente de seus cuidados, a sua própria terá novas prioridades.
A coprodução entre Brasil, França, Suécia e Portugal ganhou o prêmio de Melhor Longa-Metragem de Documentário no Festival do Rio 2015, e está disponível na Globosat Play.
Trailer legendado
Estreia: ‘Tully’, com Charlize Theron, aborda a maternidade de maneira digna e cativante
Estreia, nesta quinta (24), o mais novo filme estrelado por Charlize Theron (Monster – Desejo Assassino, Mad Max: Estrada da Fúria). Tully conta a história de Mario (Theron), uma mãe de três filhos que, completamente esgotada pelas demandas sociais, resolve contratar uma babá noturna.
De nome Tully, a babá vivida por Mackenzie Davis (Black Mirror, Blade Runner 2049) é, em termos de personalidade, o oposto de Mario. Jovem, magra, cheia de vida e com a cabeça bastante aberta, Tully traz para a vida de sua patroa muito mais do que um apoio materno; e sim, uma grande amizade.
Dirigido por Jason Reitman, mesmo diretor de filmes de tom irônico e sobre situações comuns da vida – como Juno e Jovens Adultos (este último, também protagonizado por Theron) –, Tully é nada mais do que uma comédia dramática sobre as difíceis situações pelas quais uma mãe passa durante 24 horas por dia.
Acordar de madrugada para dar de mama, engordar com a gravidez, retirar leite dos seios, ir a reuniões escolares, cozinhar, trabalhar, ser compreensiva…tudo isso, somado à falta de ajuda de seu parceiro (Mark Duplass) na paternidade, e o trabalho dobrado com o filho portador de necessidades especiais, faz com que a saúde mental de Mario entre em colapso. É na babá, portanto, que todo o apoio prático e psicológico que a mãe de três precisa é suprido.
Tully não está lá somente para ninar a bebê recém-nascida por madrugadas intermináveis, mas também para recuperar o interesse de Mario em si mesma. Com atuação simplesmente brilhante, a veterana Theron nos entrega uma personagem passível de identificação imediata – principalmente se você for mãe, é claro. Sua capacidade de fazer rir em momentos tragicômicos demonstra que a atriz, mais uma vez, domina qualquer papel no cinema.
Mario ama incondicionalmente seus filhos, mas, talvez nem tanto, a própria maternidade. Depois que seu irmão e sua cunhada, irritantemente perfeitos e bem-sucedidos, sugerem que a protagonista contrate uma babá noturna, Mario, desesperada, segue o conselho e procura por um braço-direito.
Através de diálogos afiados, Tully (o filme e a babá) nos conquista desde o início. Ambas com forte personalidade, as personagens principais do longa-metragem se completam de uma maneira inexplicável, elevando o conceito de sororidade (apoio mútuo entre mulheres) às últimas consequências. Após tanta angústia, é muito satisfatório poder ver aquela mãe retornando, aos poucos, a um estado sincero de felicidade.
Mas, não se engane. Tully não vai lhe trazer apenas conforto com essa relação. É na leveza de tratamento a um tema tão recorrente – e banalizado – que o longa alcança mérito. Com personagens cativantes, um enredo cheio de reviravoltas e uma ambientação agradável, o filme é, acima de tudo,
uma bela homenagem à maternidade