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No entanto, cada série adicionada ao catálogo se comporta de determinada maneira. Podemos separá-las em três grupos: o primeiro, formado pelas séries que chegam discretamente ao catálogo e discretas continuam; no segundo encaixam-se as produções lançadas também sem nenhum apoio de marketing, mas que por algum motivo específico tornam-se fenômenos; e o terceiro diz respeito às séries que já estreiam com toda uma estratégia de marketing planejada.
La Casa de Papel pode ser mencionada como grande representante do segundo grupo. Dos últimos dias de 2017 para o início de 2018, a série espanhola tornou-se fenômeno cultural. De repente, os assaltantes da Casa da Moeda viraram ídolos nacionais – principalmente. Foi a partir daí que a Netflix Brasil passou a dedicar atenção à série.
Já como representante do terceiro grupo temos O Mundo Sombrio de Sabrina. A série “trevosa” da bruxinha adolescente parece ser a nova grande aposta a nível mundial da Netflix, e justamente por isso sua estreia contou com campanhas de marketing fortíssimas.
Considerando que acompanhar todo esse fluxo de conteúdo seja humanamente impossível, listamos três ótimas séries originais que estrearam suas primeiras temporadas em 2018, mas que talvez não tenham chegado ao nível de popularidade de La Casa de Papel e Sabrina. Será que você assistiu a todas elas? Acompanhe:
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Samantha!
A Casa das Flores reinventa o dramalhão mexicano na Netflix
Associar o México às suas novelas melodramáticas -e conservadoras- é quase que automático em nosso imaginário popular. Há anos estamos acostumados a pensar no país como expoente intocável do gênero que consagrou novelas como A Usurpadora e Maria do Bairro. Contudo, na última sexta-feira (10) a Netflix lançou um respiro às convenções do gênero: =&0=&, série criada por Manolo Caro, chegou ao catálogo da plataforma com a enorme responsabilidade de trazer novos ares ao melodrama, sem perder os (jovens) fãs noveleiros.
Com 13 episódios (que rendem ganchos para uma nova temporada), a produção mexicana acompanha o cair das máscaras dos De la Mora, uma família de classe alta, cuja imagem exemplar de comercial de margarina é tão frágil quanto as pétalas das flores da floricultura da matriarca Virginia (Verónica Castro).
A trama começa quando a floricultura, negócio responsável por manter as tradições e o status da família De La Mora, vira palco de um trágico incidente. Roberta (Claudette Maillé), a amante do patriarca Ernesto (Arturo Rios), tira a própria vida no local, durante uma festa. A partir daí, a família passa a a fazer malabarismos para manter as aparências e, ao mesmo tempo, resolver seus perrengues e lidar com as novidades.
Os elementos de uma tradicional novela mexicana melodramática estão todos presentes na série; desde os exageros, confusões, conflitos de relacionamentos, segredos, traições e reviravoltas, até a teatralidade – expressa, principalmente, pela brilhante atuação de Cecília Suárez, a filha mais velha dos De la Mora. A novidade, entretanto, fica por conta da inserção de pautas que seguem sendo tabus no país, tais como machismo, transexualidade, bissexualidade, narcotráfico, vulnerabilidade infantil, racismo e até feminismo.
Mesmo assim, não espere uma série que trate desses assuntos com a seriedade tradicionalmente destinada a esse tipo de discussão. A Casa das Flores é uma comédia bastante afiada, e, como tal, usa de situações absurdas para confrontar ideias retrógradas, sem fornecer conteúdo mastigado ou soluções fáceis ao espectador. Por isso, todos os seus personagens são falhos. Todos fazem algo reprovável em algum momento. Não são personagens feitos para serem amados, mas são grandes e fundamentais para a dinâmica da narrativa.
Aqui, Manolo Caro se vale de um humor quase mórbido – que nasce da capacidade de nos fazer rir de nossa própria decadência enquanto sociedade – e de personagens com ares “Almodovarianos” (principalmente as mulheres, com suas personalidades bem demarcadas e existências que circulam entre cores, tragédia humana e força feminina), para confrontar os conservadorismos de folhetim. Assim, num primeiro momento, a trama pode parecer irresponsável, embora ela seja, na verdade, ácida e provocativa.
Em entrevista ao jornal El País, a atriz Cecilia Suárez apontou: “Me parece absurdo que possamos ver, às cinco da tarde, rifles e metralhadoras e que não vejamos um beijo entre dois homens ou duas mulheres. Permitimos a violência, mas não um ato amoroso”.
A Casa das Flores pode ser considerada, portanto, algo híbrido entre série e novela millennial (afinal, o que seria uma série senão uma novela millennial, não é mesmo?). Aliás, ao trazer Verónica Castro, o criador da série demonstra sua intenção de reinventar a novela mexicana sem perder sua essência. A atriz, que fez parte do elenco da popular Os Ricos Também Choram, é fundamental para estipular um diálogo entre o tradicional e o inovador.
Da mesma forma, a trilha sonora opera misturando jovens clássicos da música mexicana, como a canção Es Mejor Así, de Christian Castro, filho de Verónica, com música latina contemporânea, como Nuestra Canción, da banda colombiana Monsieur Periné.
Por tudo isso, é justo dizer: fãs de dramalhões mexicanos do mundo, uni-vos! A Casa das Flores chegou para dar um fim ao eterno dilema entre assistir a uma novela por gostar do gênero, mesmo sabendo que existem inúmeros problemas, ou não assistir à novela em questão e perder todas as emoções de um melodrama carismático.
=&1=& A novela mexicana no imaginário brasileiro
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