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Stranger Things 3 e o futuro da série de sucesso
Crítica: Stranger Things 2
Após mais de um ano de espera, a Netflix lançou na última sexta-feira (27) a segunda temporada de sua série mais aguardada até então. Com o nome promocional de Stranger Things 2, a história protagonizada pela jovem paranormal Eleven (Millie Bobby Brown) e seu grupo de amigos Mike (Finn Wolfhard), Will (Noah Schnapp), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) retorna com ainda mais força.
Depois dos eventos ocorridos durante a primeira temporada, os personagens da fictícia Hawkins, em Indiana, encontram-se profundamente afetados e tentam refazer suas vidas gradualmente. Joyce (Winona Ryder) conta com a estabilidade de seu relacionamento romântico com Bob (Sean Astin) e, mais cautelosa do que nunca, acompanha o filho Will constantemente, com receio de que algo de ruim o aconteça novamente. O menino, por sua vez, definitivamente não é mais o mesmo de antes. Tendo de lidar com aquilo que ele nomeia de “Memórias do Agora”, Will luta psicologicamente para evitar que sua vida saia dos eixos para sempre.
Os demais personagens, como Nancy (Natalia Dyer), Jonathan (Charlie Heaton) e Mike, também enfrentam seus próprios monstros – bem mais difíceis de derrotar do que um (ou mais) Demogorgon(s). Uma Nancy amadurecida busca conviver com a perda de sua amiga Barbara (Shannon Purser) – abduzida e morta há cerca de um ano pelo monstro do Mundo Invertido –, assim como se esforça para não deixar o namoro com o playboy Steve (Joe Keery) desandar. Enquanto isso, Mike ainda sofre com a ausência de sua amiga Eleven, que, numa tentativa de acabar de vez com o apelidado Demogorgon, acabou sendo transportada àquela realidade paralela.
O ponto forte desta temporada consiste justamente na fixação de uma identidade narrativa. Afinal, é de conhecimento geral que as referências à cultura pop dos anos 80 foram o combustível motor da primeira temporada, e também o que transformou o enredo numa grande homenagem. Agora, não mais podendo bater nessa tecla sem soarem repetitivos, os criadores da série, Matt e Ross Duffer, apostam na construção de uma originalidade. É claro que a série já contava com propostas inéditas desde sua idealização – como a abordagem de um mundo paralelo dentro de um formato “spielbergiano” –, mas os novos episódios trazem a confirmação de um universo fictício totalmente novo.
Ao mesmo tempo, o roteiro de cada episódio em questão dá corpo a um desenrolar semelhante ao da temporada passada. E, à medida em que avançamos na continuação da história, percebemos tal semelhança como um mérito. Antes, Will fora abduzido, mas sua consciência manteve-se sempre conectada à residência dos Buyers, sua casa. Já nesta temporada, o garoto está presente fisicamente, mas sua essência e consciência são envolvidas pelo denominado Monstro das Sombras – uma espécie de vírus gigante do Mundo Invertido – e tudo aquilo que se relaciona a ele. Mundos paralelos, “temporadas alternantes”.
Seguindo essa linha, não bastassem as referências oitentistas anteriormente exploradas, outros filmes dessa década são agora homenageados – como Mad Max e Os Caça-Fantasmas –, além de alusões à primeira temporada da própria série. Algumas delas, por sinal, são bastante memoráveis: Nancy armada com uma espingarda; o bastão de baseball com pregos de Steve; a transformação da residência dos Buyers de uma simples casa a um lugar caótico; a cena do grupo de amigos jogando no primeiro episódio, e as decisões um tanto quanto díspares do policial Jim Hopper (David Harbour).
Tudo isso demonstra a escolha dos irmãos Duffer em seguir com um modelo comum de sequências cinematográficas. Se a primeira parte da história deu certo, persistir em sua “fórmula” é um ótimo rumo a ser tomado na continuação. Ou seja, roteiros que se desenvolvam similarmente em dois filmes de uma mesma série de sucesso têm altas chances de não avacalhar a audiência – desde que, é claro, o enredo não traga monotonia à sequência. E Stranger Things 2 não perde o ritmo, precisamente porque há um aprofundamento muito bem demarcado em seus conflitos e personagens. A série cresceu, a produção da segunda temporada foi minuciosamente pensada e solidifica-se, assim, sua identidade narrativa.
Como toda boa nova temporada, esta traz ainda mais personagens. Max (Sadie Sink) e Billy (Dacre Montgomery) são os irmãos recém-chegados em Hawkins, e que despertam muita curiosidade por onde passam. A família de Lucas é introduzida, assim como a mãe de Dustin – interpretada pela veterana da Netflix Catherine Curtin (Orange Is the New Black) – e uma gangue de jovens punk super misteriosos. O episódio protagonizado por esse grupo, aliás, apesar de ter sido avaliado como o pior da temporada pelo IMDb, tem um papel muito importante no desenvolvimento de uma das principais personagens, além de trazer um certo frescor à história já avançada.
Apesar de o conteúdo da série vir regado de diálogos machistas e situações delicadas – como revanchismo feminino –, um enredo que insinuasse ações politicamente corretas dos personagens teria soado muito forçado. As crianças e os adultos de Stranger Things são imperfeitos, realistas e, muitas vezes, preconceituosos – principalmente se considerarmos a época em que a série se passa. Se filmes da década de 80 estão sendo homenageados, que o tom permaneça similar ao que eles têm. O ideal, quando se fala em representatividade, não é a criação de figuras perfeitas ou universos utópicos, mas sim a escalação de atores de diferentes gêneros e etnias (artistas negros, por exemplo), e o tratamento do tema de forma que conscientize os espectadores. O buraco é muito mais embaixo e a série em questão cumpre seu papel de forma responsável.
Stranger Things 2 é, portanto, tudo aquilo que os fãs vinham pedindo. Os irmãos Duffer não pretendem explicar as origens do Mundo Invertido, de demais mundos paralelos ou de nossa própria realidade – pelo menos até então. A história de Eleven, Mike, Will, Dustin e Lucas continua. E é apenas isso, mas de forma ainda mais multifacetada – como a vida real é; mas sem Demogorgon ou Monstro das Sombras.
*Texto originalmente publicado em 02/11/17
Ficha técnica
Criação: Matt e Ross Duffer
País: EUA
Ano: 2017
Elenco: Millie Bobby Brown, Noah Schnapp, Winona Ryder, Sean Astin
Gênero: Fantasia, Suspense
Distribuição: Netflix
Crítica: It – A Coisa
Anos 80, grupo de garotos losers, crianças desaparecidas e um palhaço demoníaco que se transforma de acordo com o medo de sua presa. Misture tudo isso em um roteiro inspirado em uma das obras mais famosas de Stephen King e obtenha It: A Coisa. O mais novo filme de Andrés Muschietti aproveita a onda nostálgica de enredos habituados na década dos walkmans e walkie-talkies para oferecer um formato incomum de terror.