Tag: série adolescente
Crítica: Sempre Bruxa (2ª Temporada)
Crítica: Luna Nera (Netflix)
Big Mouth (Netflix): 3ª temp. é ainda mais divertida
Euphoria (HBO): adolescência e magnetismo
Sempre Bruxa, uma série colombiana Netflix feita e protagonizada por mulheres
Quando a Netflix liberou o teaser de Sempre Bruxa, há mais ou menos um mês atrás, muita gente foi tomada por curiosidade e expectativa em relação à série. O recente sucesso de O Mundo Sombrio de Sabrina deve ser um dos motivos para a empolgação gerada, já que essa nova onda de produções protagonizadas por mulheres parece agradar um nicho de audiência que procura por entretenimento, empoderamento e misticismo. Mas não se engane: apesar de apresentarem jovens bruxas como protagonistas, as duas obras originais Netflix têm muito pouco em comum.
Sex Education é a série original Netflix perfeita para a família tradicional brasileira
Otis Milburn (Asa Butterfield) é o típico adolescente socialmente retraído que faz de tudo para passar despercebido na escola, contando com a parceria de um único e melhor amigo, Eric (Ncuti Gatwa). Ele vive com a mãe, Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual. Aos 16 anos, Otis vivencia as contradições de ser um jovem tímido e sexualmente inexperiente mesmo tendo uma mãe “descolada” e aparentemente bem-resolvida.
Elite, da Netflix, estreia com atores de La Casa de Papel, conflitos adolescentes e um assassinato
Quando a Netflix liberou o primeiro trailer da série espanhola Elite, no dia 10 de setembro, algumas coisas chamaram a atenção e geraram um certo hype em relação à produção, entre elas: a história ambientada num colégio para ricos, onde os alunos usam uniformes que lembram os usados na telenovela teen mexicana Rebelde, e o elenco formado por alguns dos atores do fenômeno La Casa de Papel.
A propaganda realizada pela plataforma de streaming foi pesada e se espalhou até pelas ruas e pelas estações de metrô. O marketing da Netflix não desprezou as comparações entre Elite e outras produções, preparando materiais de campanha onde os atores principais apareciam instigando o público a assistir à série para descobrir se essas comparações fazem sentido ou não.
Na trama, a rotina do colégio particular Las Encinas é abalada com a chegada de três jovens bolsistas: Samuel (Itzan Escamilla), Nadia (Mina El Hammani) e Christian (Miguel Herrán). O colégio, famoso por ter entre seus estudantes os filhos da elite espanhola, recebe os novos alunos depois que a escola onde eles estudavam desaba e o responsável pela obra, pai de Marina (María Pedraza) e Guzmán (Miguel Bernardeau), decide pagar pela educação dos jovens para fazer um “mea culpa” diante da sociedade.
A entrada do trio no novo colégio estoura uma bolha social privilegiada e inicia alguns conflitos sociais e pessoais, colocando luz sobre temas como: sexualidade, xenofobia e racismo, consumo e tráfico de drogas, corrupção, doenças sexualmente transmissíveis e até sobre desigualdades sociais. Costurando todos os arcos, a princípio como pano de fundo, há a investigação de um crime.
Logo nos primeiros momentos do primeiro episódio, descobrimos que alguma coisa aconteceu no colégio e que alunos e professores estão sendo interrogados pela polícia. Pela tensão que a série emprega ao dar as dicas, fica claro que trata-se de um assassinato. Demora alguns episódios para sabermos quem morreu e, claro, mais uns tantos outros para descobrirmos o assassino e sua motivação.
Elite desenvolve-se trabalhando dois tempos distintos simultaneamente. Ao passo em que acompanhamos a rotina e as relações que permeiam as instalações do Las Encinas com a chegada dos bolsistas, acompanhamos também breves momentos de cada um dos personagens sendo interrogados por uma policial. São esses dois eixos narrativos que vão, aos poucos, expondo as peças do jogo.
Apesar de flertar com elementos que remontam a produções consolidadas no imaginário do público (como a telenovela Rebelde e a série Gossip Girl) , Elite traça sua própria trajetória, valendo-se também de elementos de investigação policial – presentes em muitas das séries europeias lançadas como originais Netflix dos últimos tempos. Por isso, é justo dizer que nem as gravatinhas dos uniformes, os atores de La Casa de Papel, as picuinhas de jovens ricos e os colegas de escola falando de alguém que já morreu ao melhor estilo 13 Reasons Why prejudicam a trama. Os elementos não são nada inovadores, é verdade, mas eles são reorganizados de forma instigante.
Além disso, é importante levar em consideração que trata-se de uma série que dá prioridade ao público adolescente. Isso não significa que ela seja restrita a esse nicho, afinal, tramas de investigação costumam ser envolventes. Significa, no entanto, que os temas retratados têm mais a ver com o universo jovem. De qualquer maneira, são pautas importantes, atuais e abordadas de maneira equilibrada. Tem sido comum que essas novas produções, principalmente as espanholas, trabalhem entrelinhas comprometidas em contextualizar, mesmo que sutilmente, questões atuais que contribuem também para a construção dos personagens.
Assim como La Casa de Papel, Elite carrega um certo ar de novela. A série chega a empregar o já muito utilizado – mas ainda eficiente – “quem matou?” como ferramenta de engajamento. Aliás, essa é uma ferramenta usada bem aos moldes de telenovelas, com direito a reviravoltas e tudo mais. Nada que chegue a ser incômodo para o público em geral, mas é certo que o melodrama aparece em cena ou outra para dar um olá – principalmente nos últimos minutos do episódio final, que servem de gancho para uma segunda temporada.
Ao que tudo indica, depois de ser surpreendida pelo sucesso dos assaltantes mascarados de macacões vermelhos, a Netflix decidiu bancar as produções espanholas originais apostando na afetividade cativa do público. O espectador que der play em Elite influenciado pelo elenco ou pelas referências, não vai se decepcionar. As intrigas, suspense, reviravoltas e fortes emoções estão ali, num pacote concebido e realizado para garantir a boa aceitação da audiência.
Trailer:
(Fonte: Netflix Brasil / YouTube)
Ficha técnica
Criação: Carlos Montero, Darío Madrona
País: Espanha
Ano: 2018
Elenco: María Pedraza, Miguel Bernardeau, Miguel Herrán, Mina El Hammani, Danna Paola, Jaime Lorente
Gênero: Drama
Distribuição: Netflix
[Coluna] Por que Insatiable é uma das séries mais polêmicas da Netflix?
[ATENÇÃO: Pode conter spoilers!]
Entre julho e agosto deste ano, quando a Netflix divulgou o lançamento de Insatiable, série em que Debby Ryan (ex-estrela do Disney Channel) interpreta uma menina com compulsão alimentar e fome de vingança, as reações à sinopse foram diversas. Isso, porque grande parte da internet simplesmente se recusou a acreditar na qualidade de um programa que exploraria a gordofobia (aversão a pessoas gordas) de modo cômico.
Com a estreia da série, no dia último dia 10, os piores receios dos assinantes do streaming se confirmaram. Explica-se: a personagem de Ryan, Patty Bladell, sofrera bullying durante toda a vida por ser gorda. Então, após ser agredida por um mendigo desconhecido, ela fratura a mandíbula e vai parar no hospital. Por meses, a garota é submetida a uma dieta líquida, e acaba emagrecendo drasticamente. Quando retorna ao convívio social, Patty é abordada por um preparador de concursos de misses, Bob Armstrong (Dallas Robert), que vê na jovem insegura uma perfeita chance de se sair vitorioso.
VAMOS ÀS EXPLICAÇÕES
Não bastasse a trama principal e exagerada envolvendo a protagonista, a de seu preparador não fica muito atrás; aliás, tudo em Insatiable tem um “quê” de surreal. Antes de conhecer sua mais nova pupila, Bob (cuja profissão é a de advogado) é acusado falsamente de ter assediado uma de suas candidatas a misse, e pela própria mãe da menina – a desequilibrada Regina Sinclair (Arden Myrin).
No entanto, a “tática” de Regina é um ato de pura vingança, pelo simples fato de sua filha Dixie (Irene Choi) não ter ganhado um concurso. E, para a nossa surpresa, descobrimos posteriormente que Regina é quem mantém um caso com um jovem menor de idade – que, por sinal, é filho de Bob Armstrong.
VOCÊ QUER NOVELÃO, @?
Com ares de novela mexicana, o enredo de Insatiable é, mesmo, uma salada de frutas azeda. Desde o princípio da história, é difícil engolir temas tão polêmicos expostos de modo tão forçado. Quanto ao humor escrachado, que claramente tem o intuito de denunciar ações deploráveis (como o bullying contra gordos), é tão descabido que chega a beirar o ofensivo.
Basicamente, quando imaginamos que as coisas podem começar a melhorar – quando Patty faz um belo discurso sobre aceitação, por exemplo; ou quando ela e Coralee (Alyssa Milano), a esposa de Bob, estreitam laços afetivos; e até no cômico momento em que a relação entre Armstrong e seu antagonista, Bob Barnard (Christopher Gorham), sofre uma reviravolta… –, tudo sempre vem acompanhado de um desfecho indigesto.
Descrever a reação do espectador de Insatiable, em poucas palavras, é um trabalho árduo; mas que poderia ser simplificado através da seguinte colocação: “ok, então é sobre isso que a série irá falar agora…ah, não. Espere. Não é. Mas…o quê?”. A cada episódio, os personagens estabelecem novas metas – o que não seria um problema, se tudo não fosse tão absurdo e inconsistente.
A MAIOR COMPULSÃO É A POR REVIRAVOLTAS NONSENSE
Para se ter uma ideia, em doze horas de série, Patty: emagrece; é processada por agredir um mendigo; provoca a morte de um homem; apaixona-se por Bob (Armstrong), fica a fim de Brick (Michael Provost), o filho de Bob; envolve-se com o bad boy Christian (James Lastovic); rompe com sua mãe Angie (Sarah Colonna), e depois torna-se amiga dela; participa de alguns concursos de misse; expõe, duas vezes, os dois casos extraconjugais de Bob Armstrong para a esposa; foge com o namorado; pensa estar grávida; descobre um teratoma (tumor germinativo); planeja um sequestro; é sequestrada, perseguida, bulinada, malfalada, exorcizada (!), tem vídeos pessoais expostos e sofre mais uma porção de desventuras, a princípio, “engraçadas”.
Mas, não. Pouquíssimas coisas ali são, de fato, divertidas. A maioria é fruto de um humor apelativo, com estratégias dignas de um “Zorra Total para maiores”. Além de tudo pelo o que Patty passa, e mesmo com um elenco tão pequeno, há ainda as subtramas dos outros personagens, que tornam a lista de reviravoltas de Insatiable ainda maior.
E, DIGO MAIS…
Nonnie (Kimmy Shields), a melhor amiga da protagonista, é uma das figuras mais simples e interessantes – e, sim, simplicidade é um colírio para os olhos nesta série. Isso porque a menina é uma das únicas com autoconsciência e cujo plot sobre a própria sexualidade é bom de se acompanhar. No caso dos Bob (Armstrong e Barnard), que passam a exercer uma afeição um pelo outro, também chega a ser um ponto positivo, a uma altura em que já estamos nos sentindo quase derrotados pela dura tarefa de seguir assistindo à série.
Mas, como tudo que é bom, aqui, dura pouco, a esposa (separada) de Armstrong passa a se meter na relação entre os dois homens – forçando, por um tempo, um chamado trisal. Há também a vilã obsessiva de Beverly D’Angelo, a preparadora de concursos Stella Rose, que aparece em não mais do que três ou quatro episódios. Seus objetivos, por sinal, são tão esvaziados de sentido que sequer podemos classificá-la como sendo “a” vilã do programa. Talvez, a grande vilã seja, na verdade, uma anti-heroína: a própria Patty.
Insatiable é, no geral, uma grande bagunça. Há muitas séries de comédia ou de humor dark na Netflix, cuja qualidade é inegável – como Orange Is the New Black, Unbreakable Kimmy Schmidt e a animação Big Mouth –, mas, a estrelada por Debby Ryan não é uma delas. Pode ser que você goste da dita “salada de frutas” que é Insatiable; mas não se esqueça de que sua abordagem problemática sobre questões sociais é algo que pode não agradar muita gente – e com razão. Sem falar que, salada de frutas azeda pode dar afta na boca.
Ficha técnica
Criação: Lauren Gussis
País: EUA
Ano: 2018
Elenco: Debby Ryan, Dallas Roberts, Alyssa Milano, Kimmy Shields
Gênero: Comédia, Drama
Distribuição: Netflix
Crítica: Everything Sucks!
Na última sexta (16), estreou no catálogo da Netflix a série adolescente Everything Sucks!, mais uma produção original da plataforma. Ambientada nos anos 90, a série engloba os já conhecidos dilemas adolescentes, como primeiro amor e sexualidade, mas de uma forma raramente abordada para o público jovem.
Em 1996, a Boring High School, localizada na real cidade de Boring, no estado de Oregon (EUA), recebe diariamente seus excêntricos estudantes, em meio à puberdade. Luke (Jahi Winston) e seus amigos, Tyler (Quinn Liebling) e McQuaid (Rio Mangini), acabam de chegar ao ensino médio, e mal podem esperar para começar a viver a adolescência plenamente. Para complicar ainda mais essa fase tão atribulada da vida, Luke descobre que sua crush, o alvo de sua paixonite, é também filha do diretor. Kate (Peyton Kennedy), a jovem em questão, já tem, digamos, “outras prioridades”.
Ao longo dos curtos dez episódios, Kate vai cada vez mais a fundo em sua jornada para identificar a própria sexualidade. Inicialmente insegura, é, também, em sua amizade com Luke que a garota confirma seus interesses sexuais e define várias coisas importantes para uma jovem de sua idade. Enquanto isso, somos apresentados ao casal mais superficial e irritante que Boring (palavra que significa “chato” em inglês, portanto, Boring High School seria a “Escola Secundária Chata”) já recebeu: Oliver (Elijah Stevenson) e Emaline (Sydney Sweeney). Membros do clube de teatro, os dois não medem esforços para chamar a atenção de quaisquer pessoas, seja encenando mortes violentas no meio do refeitório ou terminando o namoro nos corredores na escola.
As referências à cultura dos anos 90 são realmente fortes na série, considerando que sua ambientação é fundamental para o desenrolar das subtramas. Se os personagens pertencessem à geração Z (jovens nascidos após a segunda metade da década em questão), por exemplo, portando smartphones e interagindo nas redes sociais, toda a dinâmica do grupo principal seria diferente. Como uma boa produção teen da época, vide 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e As Patricinhas de Beverly Hills (1995), Everything Sucks! traz fitas cassete, ska punk (ritmo musical popular naqueles tempos), o rock de Oasis, MTV, skatewear (“moda skate”), walkmans e grandes estereótipos adolescentes.
O que seria dos novatos sem a mimada Emaline para atazanar suas vidas, por exemplo? Ou de Boring High School inteira sem um diretor canastrão para envergonhá-la? Difícil saber, uma vez que a série, além de se apropriar de elementos tão característicos da época, acompanha um ritmo narrativo bastante original – para dizer o mínimo.
Ao mesmo tempo em que a produção se sai bem ao abordar não somente a sexualidade de Kate, mas também todo seu contexto pessoal – a relação com o pai, Ken (Patch Darragh), seu amor pela música de Tori Amos e sua instrospecção, devido os anos de exclusão social –, a série peca nas rápidas e recorrentes mudanças de foco. O problema não está na falta de um protagonista, porque o elenco pequeno é capaz de brilhar por conta própria quando demandado, mas, sim, nos pequenos absurdos vividos pelos jovens; como a falta de espontaneidade de alguns personagens, conflitos mal solucionados e demais situações, como Kate dirigir um ônibus escolar sozinha.
Além do mais, uma das tramas mais aleatórias e sem graça é a de Ken com a mãe de Luke, a aeromoça e mãe solteira Sherry (Claudine Mboligikpelani Nako). Essa falta de interesse provocada se dá devido à dispersão da história dos jovens, abrindo espaço para o sentimentalismo exagerado e forçado do casal de pais. A realidade é que “ninguém” está interessado em Ken e Sherry, então, por que não simplesmente pular todas as suas cenas e deixar lugar para as tramas adolescentes? Aparentemente, a produção Netflix não soube estabelecer um núcleo secundário minimamente interessante. Mais Kate e menos Ken teria sido uma ótima opção.
Mesmo que Everything Sucks! seja um pouco cansativa de se acompanhar em determinados momentos, sua primeira temporada termina de forma “redonda” e
abre espaço para um aprofundamento em questões realmente envolventes