Todas as Mulheres do Mundo (Globoplay)

Paulo (Emílio Dantas) é um bon vivant mulherengo viciado em se apaixonar à primeira vista. Arquiteto de profissão, o protagonista de Todas as Mulheres do Mundo, nova série brasileira original Globoplay, acredita que só o amor romântico pode alimentar sua alma de escritor. 

‘Todas as Mulheres do Mundo’/ Divulgação

Escrita por Jorge Furtado e Janaina Fischer, com direção artística de Patricia Pedrosa e livre inspiração no trabalho do dramaturgo Domingos Oliveira, a série teve seu primeiro episódio exibido pela TV Globo em 23 de abril, na sessão “Pré-estreia Globoplay”. Na mesma data, toda a primeira temporada ficou disponível para os assinantes do serviço de streaming. 

Com ares de comédia romântica, a produção apresenta, em cada um de seus 12 episódios, o envolvimento de Paulo com uma mulher diferente. A primeira, Maria Alice (Sophie Charlotte), dura mais na vida do personagem. Outras, porém, são breves passagens na atribulada jornada amorosa de um homem eternamente obcecado por novas paixões.

Não fosse pelo protagonista insuportável, poderíamos dizer que Todas as Mulheres do Mundo é simplesmente deslumbrante e tecnicamente impecável. A masculinidade torta de Paulo, no entanto, se transforma em um problema considerável para todo o conjunto da obra.

PAULO, O “FEMINISTO”

Paulo é um estereótipo do sujeito barbudo de óculos, privilegiado e boêmio, que vive em Copacabana, idealiza mulheres e escreve poesias sobre as dores e os prazeres do amor. Aparentemente moderno e “desconstruidão”, o personagem acumula muitas experiências românticas e pouca responsabilidade afetiva. 

Paulo (Emílio Dantas) e Maria Alice (Sophie Charlotte)/ Divulgação

Tal figura nos é apresentada como um homem apaixonado pelo feminino, admirador das mulheres livres, autênticas e inteligentes; embora na prática ele não passe de um narcisista controlador, ciumento, invasivo e inconveniente. Paulo é o abusivo simpático; o tal do “feministo” que não enxerga mulheres como elas são, mas como ele pensa que são.

Por sorte, e apesar da estrutura dos episódios não dedicar espaço suficiente para que as personagens mulheres tenham verdadeira autonomia narrativa, a série não cai na armadilha de retratar as nuances dessas mulheres somente pela perspectiva do protagonista homem, ou de usá-las apenas para mudar a vida desse homem. Elas entram e saem rapidamente de cena, mas ainda assim conservam algo de si mesmas que vai além de Paulo.

De qualquer forma, não deixa de ser incômodo acompanhar o protagonismo de expressões deploráveis de masculinidade e projeções limitadas de “feminilidades apaixonantes”. Tratado como divertido, passional e molecão, Paulo tem seus comportamentos detestáveis “aliviados” pela habilidade roteiro.

Uma pena, portanto, que todas as inúmeras e poéticas inquietações sobre amor, vida e morte que Todas as Mulheres do Mundo pretende desenvolver não considerem contestar o amor romântico masculino que oprime – em maior ou menor grau.

Uma lástima também que todo o primor de fluidez narrativa, direção, estética, atuações e trilha sonora fique ofuscado por um personagem principal ultrapassado. Estamos em 2020 e não temos mais paciência para romantização – e naturalização – de comportamentos e subjetividades machistas. Se Paulo fosse uma mulher, a trama pareceria tão sublime?

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Trailer:
(Fonte: Globoplay/ YouTube)

Ficha técnica 

Criação: Jorge Furtado

País: Brasil

Ano: 2020

Elenco: Emílio Dantas, Sophie Charlotte, Martha Nowill, Matheus Nachtergaele, Lilia Cabral, Fernanda Torres, Maria Ribeiro, Fábio Assunção, Felipe Camargo, Maeve Jinkings, Mariana Sena, Marina Provenzzano

Gênero: Romance

Distribuição: Globoplay

COMENTÁRIOS

2 comentários em “Todas as Mulheres do Mundo (Globoplay)”

  1. Que critica incrível! Apos terminar a serie – com certa reluta pela repiticao de roteiro, onde mulheres incriveis entram e saem da trama como num piscar de olhos – saí com a impressao de uma serie machista inrrustida, tentando parecer desconstruída mas que carrega varios padrões caretas.

  2. Que honra ler um texto tão coeso, realmente este personagem só pode ter sido inventado em 1966. A produção das cenas é impecável, e a trilha sonora bonita, mas que pena Tribalhistas serem usados para um personagem tão raso. Não, esse roteiro de cara boêmio que ama mulheres mas não gosta de vê-las sendo felizes sem ele não funciona mais! O pior é que ele se passa de artista sensível e se sente irresistível… Aquele diálogo “eu sou formidável” é terrível. Ele não respeita o namorado da moça, ele não respeita ela, e é mais uma pecinha da nossa sociedade falocêntrica. Uma pena uma coisa dessa ser vinculada com palavras como amor, mas não passa de uma paixonite, logo acaba(tomara).

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