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[Coluna] Marvel ou DC? Nenhuma das duas.
Quando o primeiro filme do Homem-Aranha estreou nos cinemas, em maio de 2002, eu era uma criança muito pouco familiarizada com o universo dos super-heróis. Na mente (quase) em branco de uma pessoa tão pequena, a origem da história de Peter Parker seria a precursora de um interesse crescente por produções como a de Sam Raimi.
Depois, surgiram Hulk (2003), a continuação de X-Men (2003), o início da trilogia O Cavaleiro das Trevas (de 2005 a 2012), o primeiro Homem de Ferro (2008) e mais uma infinidade de longas-metragens adaptados dos quadrinhos da Marvel e da DC Comics. E, no ano em que o apogeu da união entre os “super” chegou aos cinemas – com Vingadores (2012) – eu, já adolescente, tinha certeza de que precisaria de pouco tempo até me sentir completamente fatigada daquela temática no audiovisual. Assim, meu entusiasmo progressivo se transformou – também progressivamente – em, nada mais do que, chateação.
Não me entenda mal. Foi realmente divertido assistir à incrível Mulher-Maravilha (em 2017) lutar em campos de batalha da Segunda Guerra; tal como foi engrandecedor acompanhar a trilogia já citada do Batman de Christopher Nolan em telas; e, ainda melhor foi dar risadas com o grupo mais harmônico de anti-heróis de que já se teve notícia, a partir do psicodélico Guardiões da Galáxia (2014). Mas, com a quantidade enorme de lançamentos “Marvel-DC” que tivemos nos últimos tempos, cinco – míseros – títulos dessa junção não representam quase nada.
Primeiro, lembremos quais são os filmes que deram origem ao que chamamos, hoje, de Universo Cinematográfico Marvel e/ou DC: Homem de Ferro e O Homem de Aço (2013), respectivamente. Mesmo que este último tenha estreado mais tardiamente, em relação aos longas de sua concorrente, ele foi capaz de cumprir com as expectativas de seus fãs dignamente – e quanto a um filme de origem (sem grandes reviravoltas, mas com qualidade técnica bastante alta).
Enquanto a Walt Disney Company (atual detentora da Marvel) lucrava exorbitantemente com suas obras cinematográficas, a Warner Bros. (produtora do Universo Estendido DC) tentava lançar aquilo que seriam as prévias de um filme da Liga da Justiça (a equipe de super-heróis, anteriormente, de maior renome no meio geek). Ainda que suas bilheterias cheguem perto das da Marvel, os títulos da DC tornaram-se famosos pela desaprovação por parte da crítica especializada. E, em 2016, o vexame da DCU atingiu seu auge com Esquadrão Suicida.
Sem contar a parte de efeitos visuais, que realmente merece – algum – prestígio(zinho), Esquadrão Suicida surpreendeu a todos por ter levado um Oscar no ano seguinte de seu lançamento. Eu, pessoalmente, nunca superei. Mas, de qualquer forma, vamos aos refrescos: qualquer pessoa tem o direito de declarar-se fã do super-herói, filme ou universo cinematográfico que bem lhe agradar. Um ser humano pode gostar muito mais de DC do que de Marvel, ou vice-versa; e pode gostar dos dois, inclusive. Eu, por exemplo, não gosto de nenhum.
O grande problema, para mim, na supervalorização dos filmes de super-heróis é aquilo que ambas as palavras têm em comum: o prefixo “super”. Ao passo em que as maiores bilheterias de cinema são as de produções desse gênero, temos uma quantidade ridiculamente grande de obras – mesmo de Ação e Fantasia! – subjugadas por completo, e também por causa disso. Se você tem 30 reais para ir ao cinema e precisa escolher dentre um filme de herói norte-americano e um drama nacional, com qual dos dois irá gastar seu dinheiro?
Bem, talvez os(as) leitores(as) deste site opte(m) mais pela segunda alternativa. De qualquer forma, a maioria dos brasileiros não reluta em afirmar que tem preferência por um longa do Batman ao indicado nacional ao Oscar de Filme Estrangeiro, por exemplo. Assim – e enquanto as mesmas histórias, atuações canastronas, efeitos visuais de CGI e roteiros confusos continuarem a compor a base das produções do gênero –, eu continuarei a responder a mesmíssima coisa quando me perguntarem “Marvel ou DC?”: “nenhuma das duas”.
[Estreia] Você Nunca Esteve Realmente Aqui conta com atuação irretocável de Joaquin Phoenix
Frio, nada gráfico e de poucos diálogos; é assim que o novo filme de Lynne Ramsay, Você Nunca Esteve Realmente Aqui, apresenta-se ao espectador de início. O longa-metragem, que estreia nesta quinta (09) nos cinemas, segue a cartilha das técnicas aplicadas por Ramsay em seu último sucesso – o aterrorizante Precisamos Falar Sobre o Kevin.
Interrupções musicais no meio de cenas dramáticas (e nada expositivas); personagens – propositalmente – inexpressivos e em closes estranhos, e uma direção claramente experimental, é assim que Ramsay explora, mais do que a história de um veterano de guerra, a personalidade, em si, do protagonista Joe (Joaquin Phoenix).
O misterioso homem resgata mulheres escravizadas sexualmente, agindo de modo violento somente quando calculado – e em momentos em que não há absolutamente nada a perder. Depois de um trabalho mal-sucedido, o relativo autocontrole de Joe cede lugar a um objetivo muito específico, que implica em cumprir sua missão com a dignidade que lhe cabe.
Joe é alguém cujos valores estão unicamente atrelados aos traumas de sua vida. Há vários flashes de seu passado e que dão grande profundidade ao personagem; principalmente aqueles em que aparece como um menino assustado, com uma relação delicada com a mãe e que pratica autoasfixia. O hábito nocivo, aliás, perdura até a idade adulta de Joe, quando interpretado por Phoenix.
Com cenas de ação não-convencionais, bastante verossímeis e pouco glamourosas, Você Nunca Esteve Realmente Aqui surpreende pelo modo cru como uma simples história pode ser contada. Imagine O Profissional (de Luc Besson, 2004), com um apelo muito mais perturbador – e não pela relação entre os personagens, mas sim pela forma como a direção conduz o longa. Se conseguir imaginar algo próximo a isso, talvez preveja o que assistirá no filme de Ramsay.
A montagem, o roteiro e a atuação de Phoenix são, realmente, irretocáveis; tanto são que, as duas últimas, levaram prêmios no Festival de Cannes. A qualidade técnica da produção, toda a sua execução, cumpre com o esperado (diante da filmografia de Ramsay). Você Nunca Esteve Realmente Aqui mostra que as habilidades da diretora estão em constante evolução.
Ficha técnica
Direção: Lynne Ramsay
Duração: 1h35
País: Reino Unido, França, EUA
Ano: 2017
Elenco: Joaquin Phoenix, Ekaterina Samsonov, John Doman, Judith Anna Roberts
Gênero: Drama, Suspense
Distribuição: Supo Mungam Films