Crítica: Edha, a primeira série argentina original da Netflix

No último dia 16, a Netflix disponibilizou a sua primeira série original argentina, Edha. A plataforma, que já havia lançado produções latinas antes (3%, Club de los Cuervos), dessa vez, decidiu apostar em um thriller dramático – ambientado na cidade de Buenos Aires –  que possui, como pano de fundo, um tema não muito habitual entre as séries de TV: os conflitos sociais gerados pela indústria da moda.

Na trama, Edha (Juana Viale) é uma renomada estilista que, em sociedade com seu pai Lorenzo (Osmar Núñez), administra a marca que leva seu nome. Enquanto Edha fica encarregada da parte criativa, o pai toca os negócios. Mas, o que a protagonista não imaginava, até conhecer abruptamente o misterioso Teo (Andrés Velencoso), é que o pai sempre fora um tanto quanto ganancioso e negligente em relação à ética da empresa.

Imagem: divulgação

Quando um incêndio em uma das fábricas terceirizadas, que produziam as roupas da marca Edha, mata diversos funcionários, a precarização do trabalho têxtil, associado às grandes marcas, vem à tona. A partir de então, Lorenzo passa a representar perfeitamente a dinâmica de marcas que necessitam de produção em larga escala e usufruem de trabalho semi-escravo em fábricas insalubres.

Edha é uma série ambiciosa no que diz respeito à sua proposta. Ao mesmo tempo em que desenvolve os conflitos pessoais da protagonista, somados a alguns mistérios e desvios de caráter dos personagens, ela também aborda a precarização do trabalho e as tensões sociais que permeiam esse universo de roupas e grifes. Edha é capaz de nos mostrar, com eficiência, o glamour e a miséria que atravessam a indústria da moda, incluindo também questões mais atuais, como as marcas que procuram por modelos fora dos padrões (para fazer a chamada “moda inclusiva”).

O piloto não chega a ser exatamente empolgante, mas é um episódio competente ao colocar todas as cartas na mesa e apresentar seus personagens. Ao longo dos dez episódios, entretanto, a narrativa se torna envolvente ao fazer sua “denúncia” em meio a investigações, crimes, segredos, paixões e traições.

É uma grata surpresa perceber que a série bancou sua proposta até o final e não abandonou, em momento nenhum, sua crítica, ao evidenciar apenas o drama dos personagens. Edha é uma produção muito equilibrada, nesse sentido. Não tende a melodramas e romances baratos, não abandona sua posição ousada, e nem oferece saídas e finais fáceis.

Seus personagens são absolutamente imprevisíveis e necessários para o desenvolvimento da trama. Periferia e regiões nobres são retratadas com honestidade, e as subtramas também são expostas com cuidado; nada é deixado pelo meio do caminho.

Talvez, o final ligeiramente previsível nos faça lembrar de que estamos assistindo a uma série que mescla suspense, investigação e jogos de poder. Mas isso não diminui a obra como um todo. Pode ter demorado um pouco, mas a Argentina conseguiu fazer uma estreia muito digna na Netflix.

Assista ao trailer aqui (sem legendas):

Ficha técnica

Criação:  Daniel Burman

País: Argentina

Ano: 2018

Elenco: Juana Viale, Andrés Velencoso, Osmar Núñez

Gênero: Drama

Distribuição: Netflix

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