[Estreia] Excelentíssimos, sobre o impeachment de Dilma Rousseff, é didático e toma partido

Era 31 de agosto de 2016 quando a então presidenta da República, Dilma Rousseff, foi definitivamente afastada de seu mandato. Iniciado oficialmente em dezembro de 2015, o processo de impeachment fomentou-se a partir dos bastidores atribulados da política nacional. Em Excelentíssimos, documentário de duas horas e meia sobre o afastamento de Rousseff, e que estreia nesta quinta (22), assistimos àquilo – e àqueles – que levaram a primeira mulher eleita para a presidência do Brasil à sua queda.

No longa-metragem, o diretor Douglas Duarte e sua equipe expõem o material resultante de quatro meses dentro do Congresso Nacional. Teria sido, afinal de contas, o impeachment de Dilma um golpe parlamentar?

Imagem: divulgação

Segundo a montagem do filme – a partir do conteúdo original e de imagens de arquivo – as tramitações do processo ganharam peso após a reeleição de Rousseff, em 2014. E, ao que tudo indica, os fatos apresentados apontam para algo inegável: mesmo que a questão processual esteja prevista por lei, do modo como as coisas aconteceram – e pelos motivos para tanto – a ex-presidenta fora, sim, afastada por um golpe.

O problema, tal como é narrado pelo documentário de Duarte, foram não somente os delatores corruptos da Operação Lava Jato, a crise econômica generalizada ou a baixa aprovação popular de Rousseff. Com o filme, entendemos que os motivos para o impeachment são injustificáveis pelo simples fato de que as chamadas “pedaladas fiscais” não caracterizam improbidade administrativa – tal como não existiu qualquer prova de que a presidenta estivesse envolvida em crime doloso contra a nação.

Em cima disso tudo, Excelentíssimos delineia seus argumentos de forma sutil. Por isso, para alguns, a mera apresentação de fatos tão recentes pode soar repetitiva. Muito mais didática do que redundante, no entanto, a produção nacional estreia em momento bastante pertinente do Brasil.

Imagem: divulgação

À certa altura, o presidente eleito Jair Bolsonaro, na época ainda deputado, aparece proferindo frases que não podem ser lidas senão sob a alcunha de racistas, homofóbicas e misóginas. Em contrapartida, os pensamentos de um espectador crítico podem ser resumidos a: “como chegamos até aqui?”.

Assistimos, também, às caricatas manifestações pró-impeachment, que ganharam o nem tão popular “pato amarelo” como mascote; graças à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Manifestantes, vestidos de verde e amarelo, clamam por um nacionalismo mastigado e desonesto, à medida em que acompanhamos, por alguns minutos, uma passeata de deputados engravatados. Ridicularizados em espaço público, sob os gritos de “fascistas” e “machistas”, esses políticos e seus críticos simbolizam a expressão do que há de mais adverso em nosso país.

Como Eduardo Cunha, Sérgio Moro, Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal poderiam ter despertado o que há de mais resistente em lados opostos de nossa política? Na realidade, e segundo o documentário, tais personagens serviram apenas como marionetes de verdadeiros falcões da Câmara e do Senado Federal. Falcões, estes, que representam a esmagadora maioria no cenário político.

Imagem: divulgação

Enquanto isso, áudios de ligações grampeadas do ex-presidente Lula com familiares, amigos e com a própria Dilma Rousseff, lembram-nos da ausência de provas contra ambos. Mais tarde, então, Dilma vai à frente das câmeras para revelar o famoso documento, sobre o qual fala com Lula no áudio viral. Mesmo que resolva agir às claras, de nada adianta à presidenta; impedida melancolicamente de terminar seu mandato.

Assim, deparamo-nos com o filme de terror da vida real, que é construído sob os nossos olhos. Talvez, daqui a dez ou quinze anos, o “documento visual” de Duarte faça muito mais sentido a algumas pessoas do que atualmente. Ainda assim, é sempre bom recordarmos fatos tão confusos e nebulosos de um passado recente. A quem não entendeu nada, assista ao filme; e a quem entendeu tudo, também.

Assista ao trailer abaixo:

(Fonte: YouTube/ Vitrine Filmes)

 

Ficha técnica

Direção: Douglas Duarte

Duração: 2h32

País: Brasil

Ano: 2018

Gênero: Documentário

Distribuição: Vitrine Filmes

 

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