[Crítica] Super Drags, a primeira animação nacional adulta e LGBT, ri na cara das inimigas

Três trabalhadores comuns se transformam em drag queens após o expediente, e usam seus superpoderes para lutar contra o patriarcado heteronormativo. A sinopse “bafônica” que você acabou de ler pertence à primeira animação adulta e com protagonistas declaradamente LGBT’s do Brasil. Super Drags, da Netflix, já despertou polêmicas antes mesmo de sua estreia, no último dia 09.

Em julho, quando a empresa de streaming lançou o primeiro teaser da série, entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) demonstraram-se totalmente contrárias à original Netflix. Segundo comunicado oficial do órgão nacional, o mesmo “vê com preocupação o anúncio de estreia de um desenho animado cuja trama gira ao redor de jovens que se transformam em drag queens super-heroínas”.

Lemon (Sérgio Cantú, no centro), Safira (Wagner Follare, à dir.) e Scarlet (Fernando Mendonça, à esq.) / Divulgação

No entanto, em ocasiões como a do lançamento da adaptação de Deadpool (2016), da Marvel, sobre um super-herói politicamente incorreto e de humor completamente adulto, a SBP sequer se manifestou. Seja por motivações de cunho LGBTfóbico ou não, o fato é que o comunicado do órgão não impediu que a Netflix cumprisse sua agenda e lançasse a série na plataforma.

Patrick (voz de Sérgio Cantú), Ralph (Wagner Follare) e Donizete (Fernando Mendonça) transformam-se, respectivamente, em Lemon Chiffon, Safira Cyan e Scarlet Carmesim, a fim de proteger o chamado highlight – a “energia vital das gays“. Tal como na famosa animação Três Espiãs Demais (2001), exibida originalmente pelo canal francês TF1, as Super Drags são convocadas para missões especiais por Vedete Champagne (Silvetty Montilla) – uma espécie de mentora para o trio, e com papel similar ao de Jerry Lewis em Três Espiãs.

Para lutar contra as malvadezas de Lady Elza (Rapha Vélez) – uma super-vilã recalcada – e Sandoval (Fernando Mendonça) – uma espécie de ditadorzinho qualquer –, as Super Drags usam e abusam de frases de efeito e memes da internet, numa espécie de “super-show” performático.

Vedete Champagne (Silvetty Montilla) / Divulgação

Desde a primeira cena, deparamo-nos com referências a frases de sucesso da internet. Termos como “poc“, “pintosa” e “” compõem o vocabulário dos personagens, que é todo trabalhado no dicionário LGBT. Além das sacadas afiadas e do humor pesado, mas divertidíssimo, a série conta com a ilustre presença da drag queen mais famosa da atualidade: Pabllo Vittar, na voz da cantora pop Goldiva e também na música de abertura do programa.

Mesmo que de curta duração, com apenas cinco episódios de cerca de 20 minutos, a primeira temporada de Super Drags é um refresco pertinente aos nossos olhos e ouvidos – ainda mais nesta época, tão politicamente atribulada de nosso país. Assim, se você não se incomoda com palavrões, linguagem coloquial chula e conteúdo estritamente LGBT, há grandes chances de curtir essa ótima produção nacional.

No final das contas, o posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria e demais manifestações contrárias às Super Drags serviram como combustível à série; que, com muito glamour e highlight, riu na cara das inimigas e mostrou todo o seu poder.

Goldiva (Pabllo Vittar) / Divulgação

 

Ficha técnica

Criação: Fernando Mendonça, Paulo Lescaut, Anderson Mahanski

País: Brasil

Ano: 2018

Elenco: Sérgio Cantú, Wagner Follare, Fernando Mendonça, Pabllo Vittar

Gênero: Animação, Comédia, Aventura

Distribuição: Netflix

 

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