A brasileira Carolina Markowicz foi destaque no Festival de Cannes deste ano ao ganhar o Queer Palm (prêmio independente atribuído ao melhor filme LGBT do festival) para curta-metragens por O Órfão. Seu mais recente trabalho, ainda inédito no Brasil, apresenta a história Jonatas (Kauan Alvarenga), um garoto, negro, que é adotado e depois devolvido pelos pais que não aceitam seu jeito “afeminado”.
O filme denuncia a dura realidade da adoção no Brasil: as pessoas que procuram adotar ainda consideram mais seus preconceitos do que o amor que estão dispostas a dar. Assim, crianças negras, mais velhas, ou que demonstram orientações sexuais não heteronormativas são preteridas.
O prêmio de Markowicz pode ser uma boa oportunidade para que a diretora consiga maior visibilidade para seu trabalho. Em 2014, por exemplo, a cineasta lançou o curta de animação Edifício Tatuapé Mahal, codirigido com Fernanda Salloum e disponível na internet, diferente de O Órfão, que ainda não tem previsão de estreia no Brasil.
Em Edifício Tatuapé Mahal, o ator uruguaio Daniel Hendler empresta sua voz ao narrador Javier Juarez Garcia, um boneco de maquete argentino que se muda para São Paulo para aproveitar o boom imobiliário do bairro Tatuapé. Sua função no novo emprego, assim como a de todos os outros bonecos, é compor a maquete do edifício, fazendo com que ela se torne atrativa aos olhos dos possíveis compradores de apartamentos.
Depois de sofrer uma decepção amorosa e cansado de seu cotidiano monótono e desinteressante, Javier parte sem rumo pelo mundo para vivenciar novas experiências. Logo o personagem descobre que abandonar seus assuntos mal resolvidos não é uma solução efetiva para suas angústias.
Toda a narrativa do boneco protagonista nada mais é do que um relato que se a aplica a milhares de pessoas que, de alguma forma, são obrigadas a viverem seu dia a dia no automático, sem qualquer perspectiva positiva ou experiência verdadeiramente estimulante. Uma representação crua de como muitas vezes somos bonecos na maquete da vida.
Assim, sem piedade, mas com certo humor ácido, as “massinhas” do animador Fábio Yamaji e o roteiro e direção de Markowicz e Salloum retratam o que há de mais humano em estar desgostoso com tudo e em meio a uma crise existencial.
Assista ao curta completo:
(Fonte: Canal Hysteria / YouTube)
Ficha técnica
Ano: 2014
Duração: 9 min
Direção: Carolina Markowicz e Fernanda Salloum
Elenco: Daniel Hendler
Gênero: Animação, Ficção
Disponível em: Vimeo e Canal Hysteria
País: Brasil
COMENTÁRIOS