5 filmes para você se apaixonar de vez pelo cinema nacional

Infelizmente, o cinema nacional ainda é tido pela maior parte da população como enfadonho ou de má qualidade – o que não passa de uma inverdade. Afinal, o audiovisual brasileiro é composto de uma vasta lista de obras-primas. Um modo eficaz de combater a disseminação desse tipo de informação (enganosa) sobre o nosso cinema é através da divulgação de seus filmes.

Quanto mais pessoas estiverem por dentro dos últimos lançamentos, independentemente do gênero a que pertencerem, mais fácil será para que aceitemos a relevância do nosso cinema – inclusive, internacionalmente. Seguindo essa linha, selecionamos cinco títulos brasileiros que farão você se apaixonar de vez pelo cinema nacional. Confira abaixo!

 

O Som ao Redor (2012)

De Kleber Mendonça Filho (Aquarius), O Som ao Redor conta a história dos moradores de um condomínio de classe média do Recife, cujas vidas são afetadas com o novo sistema de segurança do local. A garantia de uma suposta paz vem para alguns através da contratação da empresa de segurança particular; já para outros, a presença de pessoas de classes inferiores é sinônimo de ameaça.

A valorização de sons-ambiente, em detrimento dos diálogos, é o artifício mais importante do longa-metragem. A partir daí, Mendonça nos ensina a ouvir – a ouvir e, realmente, escutar. Mais do que um drama, O Som ao Redor é um verdadeiro thriller psicológico. O filme incentiva o espectador a questionar a validez de certos medos urbanos, e da própria discriminação de classes. Vencedor de Melhor Roteiro do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2014.

O Som ao Redor / Divulgação

Jogo de Cena (2007)

Em um teatro, 23 mulheres anônimas contam casos dolorosos e íntimos de suas vidas. Do outro lado da câmera, o célebre cineasta Eduardo Coutinho, também diretor do documentário, atua como uma espécie de ouvinte-mediador. Em contraponto, as entrevistas solas dessas figuras misturam-se às interpretações de atrizes como Fernanda Torres, Marília Pêra e Andréa Beltrão – que atuam segundo as gravações daquelas anônimas.

Mais do que uma “brincadeira” técnica de Coutinho para com o espectador, Jogo de Cena é diferente de qualquer filme que você já tenha visto. E, como saldo final, ficamos com as inúmeras reflexões sobre a vida, tal como sobre a importância de se amar genuinamente. Vencedor do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Filme, em 2008.

Jogo de Cena / Divulgação

Ônibus 174 (2002)

Ônibus 174 é um filme que desmistifica a ideia da imparcialidade midiática. O longa-metragem trata de um caso de violência urbana ocorrido no ano 2000. Em junho daquele ano, o ônibus da então linha 174 ficou detido por quase cinco horas na frente do Parque Lage, Jardim Botânico (Rio de Janeiro). O motivo? Um sequestro.

Sandro Barbosa do Nascimento, um sobrevivente da Chacina da Candelária (quando, em 1993, policiais militares mataram oito crianças e adolescentes), fez os passageiros do 174 de reféns, usando um revólver calibre 38. Mais do que uma dissecação sobre o passado de Sandro, o documentário de José Padilha e Felipe Lacerda é um autêntico documento sobre uma das principais causas da criminalidade: a não-infância da juventude negra brasileira.

Televisionado desde o princípio, o sequestro do ônibus teve seu desfecho pré-determinado graças à exposição espetacularizada dos fatos, e também à irresponsabilidade policial. Um triste acontecimento, estudado a fundo no longa-metragem. Vencedor do Prêmio Peabody do Emmy 2005.

Ônibus 174 / Divulgação

Que Horas Ela Volta? (2015)

Em 2015, o cinema nacional de drama ganhou um de seus maiores representantes do milênio. Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, é um tapa na cara da sociedade brasileira atual – hierárquica e elitista. Val (Regina Casé) é uma empregada doméstica que, como muitas mulheres reais, dorme em um quarto separado no próprio local de trabalho; além de viver afastada de sua filha, Jéssica (Camila Márdila).

Vinda de Pernambuco para São Paulo, com o intuito de ingressar na faculdade, Jéssica espera hospedar-se na casa de Val; mas, quando chega no Sudeste, a menina descobre que sua mãe vive na casa dos patrões: o casal Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli). Tendo, praticamente, educado Fabinho (Michel Joelsas), o filho do casal, Val teve de abrir mão de conviver com a própria filha – e de ser devidamente respeitada.

Que Horas Elas Volta?, por mais interessante que seja, não é um filme perfeito. Na época do lançamento, alguns veículos criticaram a produção por pecar na representatividade negra – que, no caso, é inexistente (saiba mais aqui). Geralmente, a questão da contratação de empregadas domésticas está aliada também ao racismo, e não somente às diferenças de classe e/ou de gênero.

Ainda assim, a discussão proposta pelo longa é bastante válida; e construída em cima de uma verossimilhança cruel. Vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2016 de Melhor Filme.

Que Horas Ela Volta? / Divulgação

Elena (2012)

Petra Costa parte em busca de sua irmã mais velha, a atriz Elena Andrade – que foi morar em Nova York para realizar um sonho, e nunca mais retornou ao Brasil. 20 anos depois da partida da irmã, Petra vaga pelas ruas procurando encontrar também a si própria, enquanto podemos ouvir sua doce voz confundir-se recorrentemente à de Elena.

A “memória inconsolável” de Petra é a irmã, e “é dela (memória) que tudo nasce” em Petra. A poesia e o lirismo presentes na vida da diretora são uma herança de sua mãe e de Elena, que, o tempo todo, refletem-se por dentro e por fora em Petra. A partir daí, o documentário se desenvolve como uma metáfora da ausência que a irmã faz na vida da cineasta.

O longa-metragem participou de vários festivais, e levou os prêmios de Melhor Documentário no Films de Femmes (França) e no Festival de Havana (Cuba) de 2013; além de faturar Menção Especial no Festival de Guadalajara (México), naquele mesmo ano. Você pode assistir à Elena na íntegra no YouTube.

Elena / Divulgação

 

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário