Conheça o FIM, festival que propõe o fim da sub-representatividade feminina no cinema

Começa nesta quarta (4), em São Paulo, a primeira edição do FIM – Festival Internacional de Mulheres no Cinema, um festival feito por mulheres, sobre mulheres e para todos aqueles que queiram conhecer o trabalho de cineastas brasileiras e estrangeiras.

De acordo com o material de divulgação do festival: “A sigla FIM não surge por acaso. O Festival quer o fim da sub-representatividade feminina no cinema, estimulando o começo de um novo ciclo com maior espaço para as mulheres de todas as etnias e de diferentes regiões do Brasil e do mundo”.

Ao todo serão exibidos 28 longas-metragens dirigidos por mulheres e distribuídos entre Mostra Competitiva Nacional, Mostra Competitiva Internacional, Lute Como uma Mulher e O Fogo Que Não Se Apaga.

A exibição do filme Que Língua Você Fala?, de Elisa Bracher, abre o Festival na noite do dia 4, no CineSesc. No local também será exibido o longa Paraíso Perdido, da diretora Monique Gardenberg, que encerra a primeira edição do FIM no dia 11.  

“Que Língua Você Fala” / Divulgação

Dentro da Mostra Competitiva Nacional serão exibidos filmes como Baronesa, Como é Cruel Viver Assim e Slam: Voz de Levante. Já a Mostra Internacional conta com o filme português Colo, o argentino Vergel e o mexicano Tesoros.

Em Lute Como Uma Mulher e O Fogo Que Não Se Apaga, o Festival se propõe a exibir obras que dialogam com a contemporaneidade feminina ou que tenham marcado época por sua importância. Entre eles estão: Era o Hotel Cambridge, Mataram Nossos Filhos, Meu Corpo é Político, Chega de Fiu Fiu, Praça Paris e Amor Maldito, de Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil.

No dia 5, o evento presta homenagem à ZeZé Motta exibindo o longa Xica da Silva (1976), seguido de um debate com a atriz. ZeZé é figura essencial no fortalecimento do protagonismo negro em frente às câmeras e ícone para a história do cinema e da televisão brasileira.

Praça Paris / Divulgação

Juntos, todos estes filmes traçam um panorama do cinema nacional e mundial dirigido e protagonizada por mulheres. São narrativas e estéticas diversas, feitas por mulheres de várias cores, de vários lugares, com diversas experiências de vida e mensagens para transmitir. Em conjunto, as obras questionam , naturalmente, a ideia de uma única feminilidade, padronizada e estereotipada.

A iniciativa acontece graças à parceria entre Casa Redonda e Associação Cultural Kinoforum, com o apoio do Sesc São Paulo e do Grupo Mulheres do Audiovisual Brasil e patrocínio da Avon, através do FAMA – Fundo Avon de Mulheres no Audiovisual, iniciativa da empresa com foco na equidade de gêneros no setor audiovisual brasileiro.

 

O CINEMA NACIONAL NOS ÚLTIMOS ANOS

De acordo com o relatório de 2017 da Ancine (Agência Nacional do Cinema), nos últimos 5 anos (de 2013 a 2017) a taxa média de crescimento anual das salas de exibição no país cresceu 4.7%. No ranking mundial, o Brasil ocupa o terceiro lugar entre os países com maior quantidade de salas de cinema, ficando atrás apenas da China e da Rússia.

No ano passado (2017), 158 filmes nacionais foram lançados em circuito comercial. O número representa um aumento de 11,3% em relação a 2016 (142 títulos) e recorde no número de lançamentos brasileiros desde 1995.

Em contrapartida, a quantidade de público nos filmes nacionais caiu de 30,4 milhões, em 2016,  para 17.4 milhões em 2017.

Na lista de 20 filmes de maior público em 2017, por exemplo, só há um brasileiro: a comédia Minha Mãe É Uma Peça 2, dirigida por César Rodrigues. Entre 2009 e 2017, apenas três filmes nacionais entraram no ranking de maiores bilheterias do Brasil: Os Dez Mandamentos, Tropa de Elite e MInha Mãe é uma Peça. Todos foram dirigidos por homens.    

“Minha Mãe É Uma Peça 2” / Divulgação

Já no informe de mercado sobre diversidade de gênero e raça que a Ancine publicou em 2016, ainda consta que, naquele ano, 75.4% dos 142 longas-metragens lançados comercialmente em salas de exibição foram dirigidos por homens brancos, 19.7% por mulheres brancas, 2.1% por homens negros e 0% por mulheres negras.

Ou seja, existem dois sintomas que se destacam no cinema brasileiro: os filmes nacionais ainda são majoritariamente dirigidos por homens brancos e o público não se engaja tanto com os poucos filmes que possuem direção feminina – seja por preconceito ou por ignorância, já que, de fato, o trabalho das cineastas brasileiras ainda é insuficientemente divulgado. Daí surge a importância de um festival como o FIM, que se dispõe a colocar em evidência justamente os filmes nacionais dirigidos por mulheres.

Entre documentários, experimentalismo e ficções, essas diretoras contribuem para a desconstrução de uma feminilidade limitada e para o enriquecimento plural do audiovisual, levando ao cinema brasileiro temas urgentes e obras indispensáveis. Por isso, seus filmes merecem circular e seus nomes merecem ser reconhecidos.

Se você está em São Paulo, não deixe passar essa oportunidade de ter contato com o melhor do cinema contemporâneo brasileiro e internacional.

Acesse o site do FIM e confira a programação completa

Vinheta: 

(Fonte: FIM Cine / YouTube)

 

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